Depoimento: Viviane

20:42 3 Comments A+ a-

Eu não pensava em engravidar. Já tinha uma filha e estava atolada com a pós graduação. Era novembro de 2001.

Dez dias de atraso menstrual começaram a me intrigar. Eu havia tomado todos os cuidados, não podia ser! Incentivada pelo meu marido, fiz um teste de farmácia que deu positivo, uma marca enorme naquele palitinho. Fiz outros 2 pra conferir. Todos positivos. Estava totalmente grávida, não havia dúvidas.

O Beta, entretanto, não deu um resultado tão alto. Fiz uma ultra e observei que não estava de acordo com as semanas possíveis. Fiz diversas ultras na minha primeira gravidez e sei exatamente como é cada etapa. Não vi aquela coisinha brilhante, muito comum no início das semanas.

A médica disse que eu havia "errado as contas" e que a gravidez era recente. Depois fiquei sabendo que a gravidez anembrionária era evidente, mas que ela nada falou porque sabe que meu médico gosta de dar as notícias pessoalmente. Eu saí do exame e ela entrou na sala do médico, no mesmo andar do prédio, e avisou a ele. O médico aguardou o meu chamado. Cabe aqui dizer que este médico foi quem me fez nascer, tem enorme carinho por mim e minha família e sabe que eu sou uma pilha de nervos.

Não demorou para ser chamado, com um sangramento que eu, intimamente "sabia" que não era nada. Na gravidez da minha primeira filha, eu tive vários episódios de sangramento e ele sempre dizia para eu repousar, "não é nada".

Desta vez, foi diferente, ele disse: "É um aborto. Você está perdendo o bebê. Precisamos aguardar, não podemos fazer ultra nesta fase..." Eu não entendi a mudança de postura, afinal, ele sempre dizia que não era nada... Questionei, questionei... e ele insistia que era definitivo.

Enfim, os dias passaram e aquilo só aumentava. Eu estava procurando um apartamento melhor para morarmos com nossa grande família. Achei um lindo, dos meus sonhos... só que antes que pudesse me decidir, o sangramento ficou impossível, parei de me levantar... fiquei grudada na cama e perdi o apartamento... Chateada, pedi para o meu marido continuar procurando, acreditando que a família ainda iria crescer.

Todas as idas ao banheiro eram um martírio. Meu marido ia junto, pra "garimpar" o que pudesse sair para mandarmos para exame. Eu não conseguia olhar. Como sangrava muito, o médico entendeu que talvez não fosse preciso fazer a curetagem e pediu que eu aguardasse uns dias.

Em um domingo à noite, depois de uma semana sangrando, eu perguntei se a curetagem acabaria com aquele sofrimento. Fiquei sabendo que mesmo depois ainda sangraria. Mesmo assim pedi para ser internada, porque aquela espera me angustiava, e a possibilidade de ver "algo" me assustava ainda mais.

Deixei minha filha com a minha sogra, me internei. A curetagem foi feita, passei uma noite no hospital e depois voltei pra casa da minha sogra, pra descansar com a ajuda da família.

Sangrei mais uns dias, tirei licença médica, que acabou sendo prorrogada porque eu não tinha a menor condição de voltar a trabalhar em 20 dias e acabei ficando mais de 1 mes, totalmente prostrada.

Três meses depois, já estava morando em apartamento maior, presente do meu sogro, que sempre acreditou que nossa família seria bem grande.

Não tentei outra gravidez logo em razão de motivos profissionais do meu marido e porque, no fundo, achava que deveria me "curar" daquela dor. Um ano e meio depois engravidei facilmente, logo na primeira tentativa, do meu pequeno príncipe. A gravidez foi tensa mas foi linda, e hoje ele me completa, junto com sua irmazinha mais velha.

A gravidez anembrionária foi confirmada pelo quadro clínico, pela ecografia, pelo BHCG, pela experiência do médico... mas eu não quis ver os exames feitos no hospital. Confiei no médico e não quis falar mais no assunto.

Depois do fato, fiz análise por 2 anos, até quase a data do meu filhote nascer.

Hoje estou feliz, mas ainda não aceito o que aconteceu. Não vi razão para engravidar sem querer e perder sem querer. Quando me consolavam, falavam que era a vontade de Deus, que eu iria ter outros.... Uma tia do meu marido foi a única que falou a verdade: Ela perdeu um filho há 30 anos e nunca esqueceu nem aceitou o fato. Ela afirmou, e eu confirmo, que uma coisa dessas a gente coloca em um lugar especial no coração, lembra sem mágoas ou tristeza, mas esquecer... jamais.

Viviane enviou seu depoimento em 9/11/05.

Depoimento: Cristine Leite

08:26 25 Comments A+ a-

Oi, Meu nome é Cristine, tenho 30 anos. Eu e meu marido nos casamos em maio/2004, muito felizes e confiantes no futuro. Tinhamos acabado de construir uma pequena casa, o que nos deu tranquilidade pra começar a nossa nova vida. Sempre falamos em ter filhos, mesmo quando namorados e já havíamos combinado que, um ano depois do casamanto, eu iria para de tomar a pílula. E assim fizemos: em abril/2005, eu tomei minha última cartela, ao mesmo tempo que fui à ginecologista para fazer exames, ver se está tudo bem antes mesmo de engravidar.

Fiz todos os exames (hemograma completo, fezes, urina, marcadores para rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus...) Tudo normal. Ela pediu também uma dosagem hormonal, também compatível com a de uma mulher que havia acabado de parar com a pílula.

Os meses foram passando e o meu ciclo, que antes de eu tomar pílula era doido, mostrou que continuava doido: um mês era mais curto (28 a 30 dias), no outro, mais longo (38 a 42 dias). Sabia que, com isso, a chance de não estar ovulando todos os ciclos era considerável. Mas seguimos em frente: uma hora, ia dar certo.

Pesquisei na internet dicas para engravidar, consultava modos de calcular o período fértil para mulheres com ciclos irregulares, etc. Separei os presentes que duas amigas tinham me dado, quando me casei, pois sabiam do meu desejo de ser mãe: um par de sapatinhos e 2 macacõezinhos, e fiquei aguardando.

Assim, passou maio, junho, julho, agosto. Como estava demorando pra eu engravidar, resolvi tocar outros projetos de vida: trabalhava com dedicação, me matriculei em 2 cursinhos preparatórios para concurso e comecei a pesquisar quando iriam sair os vestibulares de algumas faculdades, resolvida a fazer meu segundo curso superior.

Fiquei esperando a minha menstruação de setembro, pois achava que era pouco provável ter engravidado, por ter tido pouco tempo pra namorar. Passaram 30 dias (era meu ciclo curto!) e veio um pouquinho de sangue, mas parou depois de 3 dias. Comecei a não conseguir ver a novela que acompanho até o fim (na verdade, eu não chegava nem no fim da novela das 7), dormia um sono profundo e muito gostoso antes. Comecei a sentir muita fome (e eu sou muito cuidadosa com minha alimentação, como de 3/3h, pra não sentir fome e dar chance ao organismo de acumular gordura).Tinha algo estranho. Meu marido logo falou: "Você está grávida". Eu achava que não, era muito rápido... será?

Com medo de criar falsas ilusões para ele, minha família e amigos, resolvi fazer o Beta sem contar nada pra ninguém. Pedi a um médico do meu serviço que fizesse o pedido e, no mesmo dia, fui ao laboratório, na hora do almoço. Às 16:30 saiu o resultado: 36,5 UI/ml, inclusivo. Putz, ter que esperar mais uns dias pra fazer de novo!!! Um misto de esperança de dar positivo e o medo de dar negativo tomou conta de mim! "Será que tem uma sementinha aqui dentro de mim???", eu pensava... Nossa, como eu pedia a Deus pelo resultado positivo... Acendi vela, me pegava fazendo planos pra nós 3 (eu, marido e bebê).

Três dia depois, repito o exame: 100,3 UI/ml, positivo!!! Nossa que felicidade!!! Eu não sabia nem como contar para meu marido que ele seria papai... Ele ficou tão feliz! No dia seguinte, fomos eu e ele contar aos nossos pais que eles seriam avós. Mais felicidade! Nossa, parecia tudo um sonho.

Comecei a rearranjar o que já havia planejado: não ia mais viajar em março, pois tinha medo de viajar e acontecer alguma coisa com o bebê, mudei o adoçante que usava, pois poderia causar mal-formação, resolvi estudar com mais afinco, pois queria ganhar mais para dar uma qualidade de vida melhor ao filho ou filha... Marquei um ultrassom, marquei consulta no obstetra. E fui levando os dias, feliz, agradecendo todos os dias a Deus pela benção de ser mãe.Pelas minhas contas, estava de 6 semanas...

Uma semana. Foi esse o tempo que durou o sonho e começou o pesadelo. Exatamente uma semana depois do resultado positivo, notei uma discreta manchinha marrom na calcinha. Pânico: eu estava só em casa, e aquilo era ínicio de hemorragia com certeza. Liguei imediatamente para o meu marido, que estava em uma reunião no trabalho. Enquanto o esperava e enquanto seguíamos pro hospital, só rezava. Pedia a Deus que não me tirasse aquele filho, tão desejado, tão amado.

Lá chegando, o médico da emergência tentava me traquilizar: "pode ser sangramento de implantação". Não eu já havia tido esse sangramento antes, por três dias, em setembro. "Muitas mulheres sangram até 3, 4 meses de gravidez! É só fazer repouso. Façamos a ecografia, você vai ver que está tudo bem com o bebê".

Na ecografia, só uma manchinha, sugerindo a presença de um saco gestacional... "Ue, com 7 semanas, já era pra ver o embrião...". Nessa hora, tive a certeza que era gravidez anembrionária! Uma querida amiga teve, em 2004, e foi muito triste e dolorido... Parecia uma reprise de um filme que eu tinha visto e não tinha gostado.

O bem-intecionado médico da emergência continuava tentando me acalmar: "às vezes, você demorou pra ovular mês passado, pode ser que esteja de menos semanas, e que só consiguamos visualizar o embrião semana que vem". Me mandou pra casa, com um fio de esperança e um pedido de ecografia pra dali há uma semana. Apesar de tudo, dormi bem naquela noite , acho que ação final dos hormonios da gravidez.

No dia seguinte, o sagramento, que antes era incipiente, estava bem maior. Meio desorientada, corri para o laboratorio e fiz outro betahcg. Quando eu estava no laboratório, uma amiga de infância, que às vezes passo meses sem falar, me liga: "aonde você está?". Respondo que estava no laboratório. "Fazendo o quê?" Aperta daqui, pressiona dali, eu acabo respondendo. "Menina, sai daí agora, vai já pro consultório do meu marido!" Ele é ginecologista, muito elogido pelas suas pacientes. Sempre soube disso, mas sempre tive constrangimento de me consultar com homens, ainda mais marido de uma amiga de infância! Mas, diante do desespero e da impossibilidade de conseguir adiantar minha consulta na ginecologista com quem estava marcada, vamos lá...

Fui muitíssimo bem recebida e atendida. Ele explicou tudo o que poderia ser, e que, caso o pior acontecesse, teria de fazer uma curetagem. Me colocou de repouso de 1 semana, falou que eu iria tomar um remedinho pra ajudar a prevenir o pior e que eu confiase em Deus. Falei que havia mandado fazer o Beta. Pediu que o ligasse, informando o resultado, assim que o exame ficasse pronto às 16:30. Nesse horário, tremendo de medo, sai do meu repouso na cama e fui para o computador ver o resultado: 8,5 UI/ml. Tudo escorreu: meus sonhos, minhas esperanças, tudo junto com minhas lágrimas. O pior tinha acontecido.

Liguei para o médico, ele disse que já não havia porque esperar uma semana: pediu para eu fazer outra ecografia e que, dependendo do resultado, faríamos a curetagem ainda naquele dia.

Fui fazer a eco. Acho que essa foi a parte mais dolorida: ficar esperando, um encaixe para fazer a minha eco de útero vazio, numa sala de recepção cheia de grávidas e de mães com bebês fofos. Eu tentava me manter forte, mas os olhos enchiam-se de água e as lágrimas iam escorrendo, involuntariamente. Saiu uma mamãe barrigudinha, toda feliz, pois tinha visto que estava grávida de uma menina. Depois fui eu, e o médico viu que havia restos ovulares, não havia mais nem sinal do saco gestacional que estava vazio no dia anterior, e eu iria ter que fazer a curetagem.

Às 19 horas, fui internada. Tentava me manter forte, não chorei na frente da minha mãe ou marido, até então. Fui paramentada e, quando me sentava na maca, a enfermeira me perguntou se era o primeiro filho. Assenti com a cabeça, pois as palavras não saíam. Ela disse, com muita ternura: "Virão muitos outros, você vai ver..." E naquele momento, não consegui omitir as lágrimas, que vinham caindo só quando estava só e respondi: "Não sei se terei forças pra tentar de novo..."

Duas horas depois, acordava da anestesia, com duas enormes dores: no útero (eu tinha a impressão que meus rins tinham passado para frente e que estava tendo uma forte dor renal em ambos!!) e na alma... Depois de 3 dias, a dor do útero passou... A da alma, não.

Muita gente foi me visitar, eu tentava parecer calma, conformada, não transparecer desespero. Mas quando ficavamos só eu e meu marido, eu só perguntava porque Deus havia me deixado acreditar que ia ser mãe, pra depois me tirar essa felicidade? Que antes o exame nunca tivesse dado positivo, pois eu poderia tentar novamente no novo ciclo. E que, depois de tudo, se eu tivesse coragem de tentar de novo, ia ter de esperar no mínimo 3 meses para recuperar-me da curetagem... O médico considerou minha gravidez anembrionária, pois nunca se viu um feto no saco gestacional.

Isso tudo faz exatamente 13 dias... Ontem, levei todos os exames pós-curetagem que o médico pediu. Deu tudo normal. Saí chorando do consultório... Se estava tudo normal, por que perdi o bebê? Se eu tivesse alguma coisa, era só eu me tratar, que depois que ficasse boa, engravidaria e levaria a gravidez a termo. E saudável assim, como ele diz que estou, o que posso fazer?

Estou com muito medo de confiar novamente em Deus, pois tenho medo de passar por tudo isso de novo. Tenho medo de confiar que vai dar tudo certo e me decepcionar. Minha mãe me pergunta se não tenho fé... No momento, eu não sei se tenho. E isso me faz me sentir ainda mais culpada, pois sei que preciso de Deus e que tudo na vida depende Dele. Mas se eu falar que eu confio nele nesse momento, é mentira. E acho que, se eu não confiar Nele, nunca vou engravidar...

Todo dia, estou melhorando um pouquinho... Hoje, voltei a trabalhar. Peço encarecidamente às pessoas que lerem esse depoimento, que orem, rezem, façam uma prece por mim. E desejo, de coração, que todas aquelas que sonham em ser mamães que consigam!


Cristine enviou seu depoimento no dia 20 de outubro de 2005.

Pra quem sabe inglês

19:58 0 Comments A+ a-

O termo em inglês para "ovo cego" é blighted ovum.

Pra quem sabe inglês, é legal fazer uma pesquisa no Google digitando o termo ou então anembryonic gestation. Vai encontrar muitas referências interessantes.

Recentemente encontrei um grupo de apoio no Yahoogroups, com mulheres que passaram por essa situação. Convidei-as para compartilhar seus relatos comigo. Vamos ver se elas aceitam.