Depoimento: Cristine Leite
Oi, Meu nome é Cristine, tenho 30 anos. Eu e meu marido nos casamos em maio/2004, muito felizes e confiantes no futuro. Tinhamos acabado de construir uma pequena casa, o que nos deu tranquilidade pra começar a nossa nova vida. Sempre falamos em ter filhos, mesmo quando namorados e já havÃamos combinado que, um ano depois do casamanto, eu iria para de tomar a pÃlula. E assim fizemos: em abril/2005, eu tomei minha última cartela, ao mesmo tempo que fui à ginecologista para fazer exames, ver se está
tudo bem antes mesmo de engravidar.
Fiz todos os exames (hemograma completo, fezes, urina, marcadores para rubéola, toxoplasmose, citomegalovÃrus...) Tudo normal. Ela pediu também uma dosagem hormonal, também compatÃvel com a de uma mulher que havia acabado de parar com a pÃlula.
Os meses foram passando e o meu ciclo, que antes de eu tomar pÃlula era doido, mostrou que continuava doido: um mês era mais curto (28 a 30 dias), no outro, mais longo (38 a 42 dias). Sabia que, com isso,
a chance de não estar ovulando todos os ciclos era considerável. Mas seguimos em frente: uma hora, ia dar certo.
Pesquisei na internet
dicas para engravidar, consultava modos de calcular o perÃodo fértil para mulheres com ciclos irregulares, etc. Separei os presentes que duas amigas tinham me dado, quando me casei, pois sabiam do meu desejo de ser mãe: um par de sapatinhos e 2 macacõezinhos, e fiquei aguardando.
Assim, passou maio, junho, julho, agosto.
Como estava demorando pra eu engravidar, resolvi tocar outros projetos de vida: trabalhava com dedicação, me matriculei em 2 cursinhos preparatórios para concurso e comecei a pesquisar quando iriam sair os vestibulares de algumas faculdades, resolvida a fazer meu segundo curso superior.
Fiquei esperando a minha menstruação de setembro, pois achava que era pouco provável ter engravidado, por ter tido pouco tempo pra namorar. Passaram 30 dias (era meu ciclo curto!) e veio um pouquinho de sangue, mas parou depois de 3 dias. Comecei a não conseguir ver a novela que acompanho até o fim (na verdade, eu não chegava nem no fim da novela das 7), dormia um sono profundo e muito gostoso antes. Comecei a sentir muita fome (e eu sou muito cuidadosa com minha alimentação, como de 3/3h, pra não sentir fome e dar chance ao organismo de acumular gordura).Tinha algo estranho. Meu marido logo falou: "
Você está grávida". Eu achava que não, era muito rápido... será?
Com medo de criar falsas ilusões para ele, minha famÃlia e amigos,
resolvi fazer o Beta sem contar nada pra ninguém. Pedi a um médico do meu serviço que fizesse o pedido e, no mesmo dia, fui ao laboratório, na hora do almoço. Às 16:30 saiu o resultado: 36,5 UI/ml, inclusivo. Putz, ter que esperar mais uns dias pra fazer de novo!!! Um misto de esperança de dar positivo e o medo de dar negativo tomou conta de mim! "Será que tem uma sementinha aqui dentro de mim???", eu pensava... Nossa, como eu pedia a Deus pelo resultado positivo... Acendi vela, me pegava fazendo
planos pra nós 3 (eu, marido e bebê).
Três dia depois, repito o exame:
100,3 UI/ml, positivo!!! Nossa que felicidade!!! Eu não sabia nem como contar para meu marido que ele seria papai... Ele ficou tão feliz! No dia seguinte, fomos eu e ele contar aos nossos pais que eles seriam avós. Mais felicidade! Nossa, parecia tudo um sonho.
Comecei a rearranjar o que já havia planejado: não ia mais viajar em março, pois tinha medo de viajar e acontecer alguma coisa com o bebê, mudei o adoçante que usava, pois poderia causar mal-formação, resolvi estudar com mais afinco, pois queria ganhar mais para dar uma qualidade de vida melhor ao filho ou filha... Marquei um ultrassom, marquei consulta no obstetra. E fui levando os dias, feliz, agradecendo todos os dias a Deus pela benção de ser mãe.Pelas minhas contas,
estava de 6 semanas...
Uma semana. Foi esse o tempo que durou o sonho e
começou o pesadelo. Exatamente uma semana depois do resultado positivo, notei uma discreta
manchinha marrom na calcinha. Pânico: eu estava só em casa, e aquilo era Ãnicio de hemorragia com certeza. Liguei imediatamente para o meu marido, que estava em uma reunião no trabalho. Enquanto o esperava e enquanto seguÃamos pro hospital, só rezava. Pedia a Deus que não me tirasse aquele filho, tão desejado, tão amado.
Lá chegando, o médico da emergência tentava me traquilizar: "pode ser sangramento de implantação". Não eu já havia tido esse sangramento antes, por três dias, em setembro. "Muitas mulheres sangram até 3, 4 meses de gravidez! É só fazer repouso. Façamos a ecografia, você vai ver que está tudo bem com o bebê".
Na ecografia, só uma manchinha, sugerindo a presença de um saco gestacional... "Ue,
com 7 semanas, já era pra ver o embrião...". Nessa hora, tive a certeza que era
gravidez anembrionária! Uma querida amiga teve, em 2004, e foi muito triste e dolorido... Parecia uma reprise de um filme que eu tinha visto e não tinha gostado.
O bem-intecionado médico da emergência continuava tentando me acalmar: "às vezes, você demorou pra ovular mês passado, pode ser que esteja de menos semanas, e que só consiguamos visualizar o embrião semana que vem".
Me mandou pra casa, com um fio de esperança e um pedido de ecografia pra dali há uma semana. Apesar de tudo, dormi bem naquela noite , acho que ação final dos hormonios da gravidez.
No dia seguinte, o sagramento, que antes era incipiente, estava bem maior. Meio desorientada, corri para o laboratorio e fiz outro betahcg. Quando eu estava no laboratório, uma amiga de infância, que às vezes passo meses sem falar, me liga: "aonde você está?". Respondo que estava no laboratório. "Fazendo o quê?" Aperta daqui, pressiona dali, eu acabo respondendo. "Menina, sai daà agora, vai já pro consultório do meu marido!" Ele é ginecologista, muito elogido pelas suas pacientes. Sempre soube disso, mas sempre tive constrangimento de me consultar com homens, ainda mais marido de uma amiga de infância! Mas, diante do desespero e da impossibilidade de conseguir adiantar minha consulta na ginecologista com quem estava marcada, vamos lá...
Fui muitÃssimo bem recebida e atendida. Ele explicou tudo o que poderia ser, e que,
caso o pior acontecesse, teria de fazer uma curetagem. Me colocou de repouso de 1 semana, falou que eu iria tomar um remedinho pra ajudar a prevenir o pior e que eu confiase em Deus. Falei que havia mandado fazer o Beta. Pediu que o ligasse, informando o resultado, assim que o exame ficasse pronto às 16:30. Nesse horário, tremendo de medo, sai do meu repouso na cama e fui para o computador ver o
resultado: 8,5 UI/ml. Tudo escorreu: meus sonhos, minhas esperanças, tudo junto com minhas lágrimas. O pior tinha acontecido.
Liguei para o médico, ele disse que já não havia porque esperar uma semana: pediu para eu fazer outra ecografia e que, dependendo do resultado, farÃamos a curetagem ainda naquele dia.
Fui fazer a eco.
Acho que essa foi a parte mais dolorida: ficar esperando, um encaixe para fazer a minha eco de útero vazio, numa sala de recepção cheia de grávidas e de mães com bebês fofos. Eu tentava me manter forte, mas os olhos enchiam-se de água e as lágrimas iam escorrendo, involuntariamente. Saiu uma mamãe barrigudinha, toda feliz, pois tinha visto que estava grávida de uma menina. Depois fui eu, e o médico viu que havia
restos ovulares, não havia mais nem sinal do saco gestacional que estava vazio no dia anterior, e eu iria ter que fazer a curetagem.
Às 19 horas, fui internada. Tentava me manter forte, não chorei na frente da minha mãe ou marido, até então. Fui paramentada e, quando me sentava na maca, a enfermeira me perguntou se era o primeiro filho. Assenti com a cabeça, pois as palavras não saÃam. Ela disse, com muita ternura: "Virão muitos outros, você vai ver..." E naquele momento, não consegui omitir as lágrimas, que vinham caindo só quando estava só e respondi: "Não sei se terei forças pra tentar de novo..."
Duas horas depois, acordava da anestesia,
com duas enormes dores: no útero (eu tinha a impressão que meus rins tinham passado para frente e que estava tendo uma forte dor renal em ambos!!)
e na alma... Depois de 3 dias, a dor do útero passou... A da alma, não.
Muita gente foi me visitar, eu tentava parecer calma, conformada, não transparecer desespero. Mas quando ficavamos só eu e meu marido, eu só perguntava porque Deus havia me deixado acreditar que ia ser mãe, pra depois me tirar essa felicidade? Que antes o exame nunca tivesse dado positivo, pois eu poderia tentar novamente no novo ciclo. E que, depois de tudo, se eu tivesse coragem de tentar de novo, ia ter de esperar no mÃnimo 3 meses para recuperar-me da curetagem...
O médico considerou minha gravidez anembrionária, pois nunca se viu um feto no saco gestacional.
Isso tudo faz exatamente 13 dias... Ontem, levei todos os exames pós-curetagem que o médico pediu. Deu tudo normal. Saà chorando do consultório... Se estava tudo normal, por que perdi o bebê? Se eu tivesse alguma coisa, era só eu me tratar, que depois que ficasse boa, engravidaria e levaria a gravidez a termo. E saudável assim, como ele diz que estou, o que posso fazer?
Estou com muito medo de confiar novamente em Deus, pois tenho medo de passar por tudo isso de novo. Tenho medo de confiar que vai dar tudo certo e me decepcionar. Minha mãe me pergunta se não tenho fé... No momento, eu não sei se tenho. E isso me faz me sentir ainda mais culpada, pois sei que preciso de Deus e que tudo na vida depende Dele. Mas se eu falar que eu confio nele nesse momento, é mentira. E acho que, se eu não confiar Nele, nunca vou engravidar...
Todo dia, estou melhorando um pouquinho... Hoje, voltei a trabalhar. Peço encarecidamente às pessoas que lerem esse depoimento, que orem, rezem, façam uma prece por mim. E desejo, de coração, que todas aquelas que sonham em ser mamães que consigam!
Cristine enviou seu depoimento no dia 20 de outubro de 2005.